quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

Sobre histórias.Contadas e vividas

Acabo de ver a última temporada de Downton Abbey (sem spoilers, prometo!) e súbito me dou conta de algo simples, mas surpreendente, como geralmente são as grandes verdades que por vezes nos batem no rosto por anos, até que lhes voltemos o olhar. A verdade é que, independente do que escolhemos ser, somos construídos e, frequentemente, desconstruídos por boas histórias. Elas atravessam cada segundo de nossas vidas, desde os murmúrios que ouvimos ao nascer, passando pelas canções ouvidas na hora de dormir, até o glorioso momento em que podemos nós mesmos mergulhar no universo das palavras e imagens. Para cada um de nós o contato com a narrativa guarda um pouco de magia, esteja ela nas mãos de nossas avós ou nas páginas coloridas dos nossos primeiros livros. E assim,seres simbólicos que invariavelmente somos, aprendemos a dialogar com o tempo das coisas, nos costumes e linguagens que precisamos e queremos aprender...Mais do que isso: em cada capitulo da vida, aos poucos buscamos perceber a organização dos personagens, a mise-en-scène de cada momento, a fala adequada a cada ocasião..Crescemos. Mas continuamos sendo amadores, com bem pontuou a seu tempo, Sarah Bernhardt. E continuamos, ao longo da vida, a sermos preenchidos por histórias onde, por vezes, somos os protagonistas. Outras, meros figurantes. Lembro de, em criança, me encantar pelo que me parecia a mais bela de todas as funções:a do narrador. Afinal, era dele o poder de criar mundos, personagens, promover encontros e desencontros, fazer rir e chorar. Hoje, enquanto me percebo seriamente triste pelo fim de uma série, me dou conta de que ainda creio na mesma coisa:não pode haver magia maior do que , usando apenas a imaginação, convidar o outro(leitor ou espectador) a aproximar-se de seu mundo interior, pintando com as cores escolhidas uma infinidade de histórias e emoções com as quais é possível pegar o sujeito pela mão,esteja ele onde estiver e levá-lo a qualquer lugar...Se ele vai mergulhar ou apenas olhar de longe, isso ficará a cargo do tamanho da sensibilidade que terá... Quanto ao narrador, se tornará maior, na medida em que compartilhar um pouco (ou muito) de si com todo aquele que ousar se aproximar dele.....Não pode haver no mundo magia maior, a de tocar alguém que não se conhece, que não está a seu lado mas com quem , de algum modo e atravessando todas as barreiras de tempo e espaço,se está inevitavelmente de mãos dadas...

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