sábado, 17 de agosto de 2019

Escrita

Há no processo da escrita qualquer coisa que por vezes me embriaga.Outras vezes me sufoca.uma circunstância de silêncio,um instante de cansaço, um nó na garganta.Porque,de há muito que compreendi a sentença de vida e morte que me impus: jamais repousar,jamais adormecer, estar sempre a um passo da dor mais sufocante e do desespero mais absoluto.E esta solidão,como coisa viva, em uma intimidade de amantes e essa necessidade de silêncio,esse desejo que me divide ao meio,essa embriaguez.E sempre,sobre todas as coisas,as palavras que me atravessam, que sinto apertarem a garganta,que me acordam pela madrugada e me sussurram coisas e me impedem de dormir.E o corpo se revira,na inquietude da cama.E a alma arrefece,no calar das vozes, que me gritam,que seguem meus passos noite adentro,em busca de um instante de paz.Mas será isso, definitivamente: os sussurros que queimam a pele,o silêncio que corta o peito, a dor sempre latente.E as folhas de papel, riscadas à caneta, preenchendo com fragmentos de desejo o vazio das horas.

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