terça-feira, 19 de maio de 2020

Amor,pois que seja essencial.

O verso ficou escondido no cursor o dia todo. Enquanto as horas passavam, a mesma palavra, mil vezes experimentada, ainda provocava silêncio. E idêntico nó na garganta. Por que não dizer pânico. Inútil escarafunchar na memória uma rima precisa. Impossível. Onde buscar a métrica, o ritmo cadenciado de palavras se não havia sintagma possível na experiência humana, para descrever? Minuto a minuto, os olhos pousados nas imagens, repassada uma a uma, na tentativa de entender. O que? Como? Se já não havia o que dizer. Como disfarçar. Era ali, no intervalo de duas notas, no espaço entre dois corpos, onde se queria estar. Mais nenhum outro. E da dor do medo, veio a constatação. Amor. Nenhuma outra palavra. E de repente tudo fez sentido. Amor, dá-me tua mão. E me abraça forte, porque são de tempestade os ventos que chegam. E é preciso que estejamos aqui. Olhando na mesma direção. Porque no momento em que te digo sim, há uma engrenagem invisível que nos distancia e já há um vento gelado que corta minha pele. E me dou conta de que estou invariavelmente só. Em vão tentarei ser forte, mas é de dor o caminho que escolho e tu nem sempre estará aqui. Como seguir, tu me perguntas, quando caminhamos quase o tempo todo em total solidão e não há controle possível diante do tempo? E a verdade da palavra? Uma vez dita, onde aprendê-la? Não nas mãos vazias, o instante capturado da fotografia, a nota exata da canção? Tudo em igual medida, fugidio e incerto. Tanto quanto as palavras que incessantemente escrevo. Em vão. Porque a verdade do que sinto não pode ser codificada, mas apenas experimentada no espaço entre eu e você. E o amor é um lugar em que somente a coragem pode levar. Andar que se faz só, pela força de ser. Frio que atinge a espinha. Escolha de cada dia. Ser e estar. E sentir. E sofrer. Lugar feito de presença, luz e sombra, sim e não. trama fina de prosa e poesia. Amor,pois que seja essencial.

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