sexta-feira, 1 de maio de 2020

01 de Maio

Se eu pudesse desejar algo- diante desse enorme vozerio que se eleva para lá das paredes de concreto, dos muros dessa cidade, das lágrimas que se avolumam em cada esquina, de todo desespero e do caos, diante de tanta incerteza e da minha própria voz que por vezes emudece - é que você ouse manter as janelas abertas para o sol entrar e que enfrente seus silêncios com a mesma força e coragem que venceu um por um, todos os seus dias. Que teime em manter seu espírito livre e inventar sua própria poesia, que te faz único, calmaria e tempestade em cada uma das suas notas. Que siga seus próprios passos e poste-se diante do mar, tua metáfora pessoal, em compreensão de teu percurso. E deixa que as lágrimas caiam, se necessário for. E ali, os pés enterrados na areia, o vento batendo no rosto, ouse seguir em frente. E mergulhar, porque tua vida depende disso, de ser e se perder, escuridão para ser luz, medo para ser coragem, ser eu para ser nós. E segue. Daqui de onde estou, me posto em estado de contemplação de tuas cores, metáfora inesperada e indescritível que nenhuma nota consegue determinar. E que não há palavra que possa descrever. E que apenas o silêncio, quase como em estado de oração, que apenas duas pessoas podem compreender, vai deixar transparecer, no espaço entre da vida, nos fragmentos do talvez. Na ousadia de dizer sim. E ser poesia, quando tudo é caos. E seguir, na espera diária do nascer do sol, que atravessa a sala e toca nossos pés. Nas folhas espalhadas na sala, espaço de sonhar e viver. Que assim seja.

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