segunda-feira, 27 de agosto de 2018

Histórias da beira do rio- 1



Era um vilarejo,na curva do rio... onde um dia o silêncio chegou... Nas ruas vazias, por sobre o muro das casas, enquanto se coava o café.. Ninguem sabe ao certo quando, enquanto muitos dormiam a sesta, na hora que o sol comecava a se pôr.. De repente, não havia mais música e os ponteiros do relógio paralisaram no mesmo lugar.. A moça na janela esperava em vão a carta que não chegou. A velha senhora, sentada na frente da casa, pitava seu cachimbo... Ninguém sabe quando os sinos da igreja pararam de tocar. As mães foram para a rua procurar as crianças. A roupa secou no varal, sem que ninguém fosse recolher. O vendedor de doces chegou até a praça e encontrou um jornal velho, de muitos anos, amassado ao lado do banco. Enquanto o medo crescia, as avós trancavam seus netos nos quartos e as professoras fechavam as portas da escola..O padre, benzendo-se, ajoelhou-se no chão e começou uma novena.E foi ali que o prefeito o encontrou, para comunicar que o relógio da prefeitura havia parado. Os funcionários foram dispensados de suas funções e mandados de volta para suas casas...Ajoelharam os dois, em muda oração,enquanto o silêncio se fazia cada vez maior...Já eram muitas as portas e janelas fechadas e ali adiante a vendedora de acarajé recolheu seu tabuleiro, deitando ao chão o conteúdo de suas panelas... No bar da esquina só restou o bêbado, dormindo sobre a mesa, enquanto o garcom fugia de bicicleta, deixando a pia aberta a escorrer a água por sobre o balcão...Todos buscavam a razão do silêncio, agora retumbante e infalível, atravessando as horas do dia, impondo-se a cada um. Dentro do peito a incerteza da espera, o medo do inesperado fizeram muita gente chorar....O velho banqueiro,aposentado, trancou as economias num cofre e enterrou num quintal...A viúva da esquina, prevendo um desastre,deitou sobre suas joias, embaixo do travesseiro.Portas e janelas fechadas, cada um cuidava de seu medo..Nem notaram quando, impondo-se ao silêncio, um homem magro, de chapéu na cabeça, atravessou devagar as ruas, em sua bicicleta..Parou na praça, caminhou até o centro, ali estendeu seu lencol em um varal..Tirou da garupa uma banqueta e uma maleta. Depositou no chão...De lá tirou um espelho e algumas tintas...Correu ao rio, mirou-se..Pintou o rosto....Voltou à praça e então, sem esperar convite, tirou do bolso uma pequena gaita e comecou a tocar... De início ninguem se apercebeu.Foi a velha senhora que, espantada, abriu a boca e deixou seu cachimbo cair....Ouvindo aquilo, a moça, que estava em casa correu para janela e viu o homem, que continuava a tocar.Sem demora, ela abriu a porta, correu ao jardim, colheu uma flor vermelha e foi para o meio da praça escutar.. Animado, o homem que tocava comecou a dançar ao redor da moça,que acompanhava a melodia com palmas,ainda timidas. Ali perto as crianças ouviram os dois e saíram de casa, pulando a janela, para espiar. Ao verem o homem e a moça que dancavam, fizeram uma roda ao redor do dois....Correu o garcom, veio a viúva, chegou-se o bêbado,já dançando no meio da rua.Fez-se barulho na frente da igreja e a porta se abriu....Cheegaram o padre e o prefeito. se viram em meio ao povo, correndo das casas, girando na praça, em palmas e risos..No meio de tudo a moça e sua rosa, giravam também, enquanto a gaita tocava...O vento chegou, a noite veio e o povo não parara de dançar... Em dada hora a vendedora de acarajé caminhou até a esquina e ali montou sua banca,apreciando a cantoria.ninguém notou quando foi,mas em algum momento os sinos recomecaram a tocar....E vieram os pescadores, da beira do rio, para admirar as moças que, sem parar de dancçr, puxavam pro centro da roda cada pessoa que vinha espiar..chegou a viúva, ergueu-se de sua cadeira, pediu licença aos dancarinos, tomou a rosa dos cabelos da moça, pendurou atras da orelha e, amarrando as saia,pôs-se tambem a dancar.A tarde caiu, veio o vento da noite, ninguem notou que era hora de dormir.....Passou-se um dia, mais dois e tres, uma semana inteira e ainda não havia quem voltasse para casa....O prefeito,precavido, decretou feriado de três dias, trancou a prefeitura e correu também a dancar....E a rosa, que passara de mão em mão, acabara ali, no leito do rio, levada pela correnteza até a outra margem onde o velho senhor,morador da tapera, veio a recolher depois...Ainda úmida,quase despetalada, foi replantada então, na frente da casa..Dizem que ainda hoje, quem chega, pode ouvir, se chegar bem perto, o som da gaita, na curva do Rio, em meio ao vento que bate ao pôr do sol...

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