segunda-feira, 2 de outubro de 2017

da bailarina

As mãos suadas, apertadas no colo,tanto quanto o coque,no alto da cabeça. O glitter não disfarça as rugas de medo, no canto dos olhos...Ao redor, os metros de tecido espalhados, na saia rodada, enquanto os pés , calçados em incômodas sapatilhas de ponta, estão solidamente plantados no chão.Só mais alguns minutos e ela estará no palco.Foram meses de ensaios,compromissos desmarcados, a expressão de desdém e incompreensão de amigos e a pergunta:para que tanto esforço? Filhos criados, o trabalho estável, tudo no seu devido lugar.Menos ela.. Em um impulso, estava na escola de dança.Dali,para o espetáculo foi um piscar de olhos.Ainda não sabe bem onde começam os passos, está insegura sobre a marcação e não sabe bem o ponto correto da música.Só tem certeza de uma coisa:estar ali é o que a mantém viva há meses. O sinal é dado.Ela entra no palco como quem atravessasse uma dimensão nova. No primeiro passo, o holofote atinge em cheio o rosto, cegando-a. Respira fundo.Talvez fosse melhor voltar. Os joelhos fraquejam.Então fecha os olhos e ouve. A música penetra seu corpo. Seus braços se erguem para atingir o céu.os pés ganham equilíbrio, levados pelo som e as mãos giram no compasso certo da música. Não sabe bem como conseguiu a primeira pirueta .Como magia sente seu corpo rodar em direção ao infinito.E então ela flutua por sobre o palco, sem medo ou hesitação. São instantes de extase, em que o silêncio dentro dela finalmente fizera sentido. Os olhos se fecham,as mãos se erguem na pose final.De repente,aplausos. Abre os olhos e caminha lentamente para fora do palco. O rosto banhado de suor, o corpo tremendo,mas a luz do rosto ilumina a todos que olham pra ela..Finalmente aquilo sem o qual não poderia viver,a plenitude de si, o instante mágico pelo qual ansiara por tanto tempo.Por breves segundos aprendera a voar.

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