sábado, 17 de setembro de 2016

Da importância de ser palhaço..

Peço licença para falar também um pouco de Domingos, ante a comoção geral.... Não do ator ou da pessoa, posto que desses, infelizmente, não me cabe falar, mesmo diante da admiração que nutria pela atuação deste. Não acompanhei muitos dos seus papeis nas novelas globais, assim como não tive a sorte de conhecer a pessoa, descrita como inesquecível, doce e iluminado, assim como parecem ser sempre aqueles que,corajosamente, encontram-se na plenitude... E Domingos me parecia, nas imagens e na fala, encontrar-se definitivamente na plenitude de si, exalando beleza, seja ela física ou espiritual.. Eu nem sabia bem seu nome, mas já admirava a bela figura do moço de cabelos grisalhos e sorriso cheio, largo, estampando as chamadas da novela ou os programas de entrevista. Mas o que me fez encantar pela pessoa de Domingos foi descobrir a entrevista que ele concedera aos diretores do filme Tarja Branca, cuja temática gira em torno da importância de brincar...Ali,o ator,antes de falar da infância ou do ofício, deixa escapar um sorriso calmo e se declara,antes de tudo,palhaço,sua primeira formação. Ator global, galã de novela, protagonista de filmes, presente em inúmeras campanhas de conscientização, Domingos preferira enfatizar que, mais do que qualquer outra coisa, ser palhaço lhe proporcionara a consciência de si e da vida, permitindo-lhe atingir a plenitude da existência.. Talvez as palavras não tenham sido exatamente essas,mas o sentido era um só:brincar é fundamental...Me apaixonei pela fala e pela transparência do ator.Então me dei conta da importância da figura do palhaço, em um mundo tão competitivo como o nosso, mundo de espelhos e máscaras, de gente frágil encastelada em suas pequenas certezas... Nessa seara ser palhaço é estar em permanentemente desconstrução, sentidos e pensamento, é ter a coragem de desnudar a alma, na medida em que nos colocamos para além da seriedade cotidiana. Ser palhaço é, definitivamente, ser livre, transver a vida, carnavalizar as estruturas sociais. Não somente nos quatros dias “momescos” que, à duras penas, temos direito, mas nos difíceis intervalos do relógio cotidiano, ser palhaço é desterritorializar afetos, propor o novo, convocar o lado mais íntimo desarmado do ser humano, aquele que sobressai quando, por vezes, sem que queiramos, ante o desempenho do sujeito de costumeiro nariz vermelho e sapatos gigantes, deixamos escapar uma gostosa gargalhada. O palhaço não é o ator porque é mais que isso, artista que não constroi um personagem ou limita-se ao desempenho. Vai além. Na beleza do improviso, desconstroi-se como sujeito para reconstruir-sem em experiência plena de sensibilidade e afeto... No exagero dos gestos cria em torno de si uma magia delicada, inserindo-se sutilmente em nossos corações e então, tornando-se eterno.. E se posso desejar alguma coisa ao palhaço Domingos é que ele permaneça,entre afeto e memória, tecendo com a magia dos seus gestos o cotidiano dos que o amam....

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