domingo, 15 de maio de 2016

Terra Estrangeira

Daqui de onde olho o mundo me parece muito diverso. Já são sujeitos, na correria diária, cruzando ruas, nos afazeres diários. Entre eles, percebo as engrenagens invisíveis, que os movimentam e os mantém em pé. Nas esquinas geladas de uma Lisboa ainda belíssima, meus passos seguem-lhe os movimentos, tentando apreender-lhes os gestos, que me parecem cadenciados e ritmados, como um grande balé. Suas falas, num forte sotaque, se fazem canção diante de meus ouvidos maravilhados. Vez por outra ouço um sorriso, percebo um silêncio e tento adivinhar-lhe o motivo. Impávidos, eles seguem, sem sequer me notar. Não notam também a beleza que encontro em seus gestos, nas ruas que percorrem, nos muros envelhecidos, nas pontes centenárias, nos belos azulejos azuis que resistem ao tempo. Tudo lhes é familiar e intimo. Portanto, parecem não conseguir mais ver. Daqui de onde estou tudo me parece demasiado, enorme, belíssimo. Sigo extasiada por suas cidades, contemplo suas casas e igrejas seculares, me detenho por horas diante de suas paisagens mágicas. E respiro, profundamente, quando me deparo com suas praias, ainda geladas, permeadas de rochas e areia branca, por entre montanhas e caminhos sinuosos,que seguem sempre em frente até descortinarem um oceano infinito e azul, onde nascem as maiores ondas do mundo. Ali, com o vento frio batendo no rosto, me dou conta, inadvertidamente, da presença imponderável, mas definitiva de Deus. Se existe no mundo um lugar como esse, há que se buscar, em alguma coisa, o elemento transcendente fundamental, posto que nem só de engrenagens pragmáticas vivemos então. Diante desse quadro, inexplicável e intangível paisagem, me posto em silêncio quase religioso . Tempo e espaço, nesse momento não me parecem mais do que uma pobre invenção , feita para os tolos. Aqui a única linguagem possível é a do infinito.

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