terça-feira, 16 de setembro de 2014

Uma decisão pragmática

Sempre é tempo de dizer, para os que ainda não sabem, que sim, voto em Dilma para presidente, sem crer em grandes transformações, como é de minha obrigação... Milagres ficam a cargo da religião, convém não misturar.Não creio ser necessário dicotomizar o discurso para compreender que Marina não representa o novo, nem mesmo Dilma. Confesso que fiquei bastante em dúvida sobre as duas, seus planos de governo, prós e contras...Votei 13 ou tive a intenção desde os 11 anos de idade e só quem viveu a eleição de 1989 pode compreender de forma correta o que foi o projeto de país de Lula derrotado pelo neoliberalismo de Collor na primeira eleição democrática do país depois de duas décadas...Não estávamos prontos. Em 2002, depois de eleger a governabilidade como programa de governo, veio a primeira vitória. E começou o projeto de país, como um reflexo fraco do que acreditáramos ser possível em 89.Foram necessários acordos espúrios e negociatas por vezes indignas, para que se votassem medidas necessárias para que direitos e garantias fundamentais saíssem da teoria e fossem para a prática e a mesa de 28 milhões de pessoas.Vou repetir:28 milhões de pessoas. E então veio o mensalão. Não sejamos inocentes, ele sempre existiu em todos os partidos. Mas para alguns, inclusive eu, conosco seria diferente. Não foi.Somente quem consegue compreender o que é o PMDB nesse país pode ter alguma ideia de como funcionam as votações em um congresso.Não se trata de ética, é interesse mesmo. Poucos são os que votam de acordo com o caráter que têm, alias são poucos que podem ser considerados como éticos. O sistema é brutal e envolve crimes prescritos em constituição. Não é jogo para amadores. E onde compreender a participação política num cenário onde a única coisa que se pode fazer é votar?Aí é que esta a questão. Não se trata somente de votar. Primeiro, é necessário entender que cidadania não é somente para quem paga imposto. E vem a grande revelação: todos minimamente pagamos,em qualquer compra que fazemos,seja o dinheiro proveniente de esmola ou de um salário. Portanto todos temos direito à saúde,educação e segurança,conforme os itens mais repetidos nos programas de todos os presidenciáveis.Compreendo que o governo petista não fez nem a metade do que pretendia e asssociou-se a agendas consideradas impensáveis em 1989.Faltou coragem?Talvez. Mas antes de pensar em como seria um governo sem alianças, pensemos em uma reunião de condomínio em que o síndico quer substituir o portão da garagem. Assim, somente isso. Imaginem a quantidade de reuniões, questionamentos, apartes e bate-bocas até que todos compreendam que sim, é necessário trocar o portão para o bem comum, não somente de quem está em dia com o condomínio. O exemplo,tosco,reflete um pouco do que é legislar em um país com sistema republicano, federativo como o nosso. São necessárias inúmeras fases até que um projeto venha à pauta, seja votado e sancionado e aí sim, entre em vigor, ou “pegue”, como dizemos aqui. Acordos são, infelizmente, necessários. Para isso, a velha política continua valendo e assim temos governado até então. Entretanto, há agendas de um projeto de país que se refletem em números, como a posição do país de 2002 para 2014, de 13 ͦ para 7 ͦ lugar. Ou através de um programa como o “Minha casa, minha vida”, ou o “ Luz para todos”. Não, eles não foram obra de só um governo. Foram obra de 12 anos de governo e agendas que compreendem a cidadania como direito de TODOS. Há números e políticas vergonhosos no governo petista, principalmente se pensarmos que muito da ideologia do partido vem, ou deveria vir de conceitos profundamente comunistas, não no sentido que ainda se crê (sim, ainda tem gente que tem medo da cor vermelha, ou acha que eles comem criancinhas), mas no sentido do “ser em comum”, do Estado para todos da mesma forma, com igualdade de direitos, de forma que AINDA não foi implementado em nenhum contexto histórico. Muito ainda há a ser feito ou revisto. Mas há ganhos que não podem ser ignorados. E há um modus operandi do governo petista, não somente do federal, mas dos Estados e prefeitura que AINDA prima pela democratização, mesmo que com falhas e desvios. E é nessa perspectiva que eu ainda aposto, apesar de tudo. Gostaria de acreditar que temos maturidade suficiente para eleger um governo do PSOL e compreender que somos parte de um todo social, participativo, para a qual nossa contribuição política efetiva será solicitada não de quatro em quatro anos, mas diariamente. Mas ainda somos o país onde a religião ou a sexualidade do sujeito determina suas escolhas para a coletividade, onde determinamos o candidato em que vamos votar com base na aparência ou na lógica burra de que todos são igualmente ruins. Ainda não estamos prontos para o voto facultativo, uma vez que achamos que nossas pequenas corrupções, nossas carteiras compradas, nossos pequenos subornos, a morte ,a tortura e a humilhação do outro , o favoritismo em concursos, em provas, em filas, os produtos roubados comprados à porta de casa,o uso indevido de direitos e espaços que não são nossos, não tem nada a ver com a ideia das grandes corrupções. Ainda acreditamos que presos tem que ser encarcerados em contêineres e postos ao sol (ver artigo Vigiando e Punindo,até quando?), ou que as rebeliões são bons sistemas para diminuir a superlotação dos presídios, afinal, todos que estão ali merecem morrer. Ainda não somos bons o suficiente para entender que o direito à vida e à dignidade são inalienáveis. Ainda somos muito provincianos em relação ao coletivo e assim o é nosso sistema político. Mudá-lo cabe a cada um de nós, acompanhando, cobrando,participando, propondo medidas em que o Estado,em seu tamanho atual e representativo,seja cada vez menos necessário e a política seja cotidiana e plural.Por enquanto, precisamos de um Estado forte,infelizmente e compor quadros no governo em que AINDA exista minimamente um projeto democrático de governo.E por isso,meu voto no dia 05/10 será 13,para presidente e 50 para todos os demais cargos.Primeiro porque acredito que é preciso fortalecer as células políticas de base e isso precisa ser feito por partidos com a ética do PSOL.Segundo,porque,na minha modesta opinião,isso corresponde à construção do que enxergo,com grandes esperanças,que será o caminho evolutivo natural,quando amadurecermos um pouco mais e deixarmos de traçar embates políticos, partindo para o debate sobre propostas.Nesse mundo utópico,poderemos pensar então em um governo sem a tal da governabilidade.Por enquanto,estamos há anos luz dessa lógica e é preciso não retroceder,criticando sempre, manifestando-se em todos os momentos,mas sem desconhecer que se as manifestações ocorrem de forma ininterrupta agora, é porque tem espaço para acontecer.Lembrando Agamben,é preciso ser contemporâneo sempre,vivendo nosso próprio tempo,mas com olhar distanciado para perceber onde estamos e que caminho devemos trilhar.Por isso,declaro meu voto aqui,não somo forma de influenciar qualquer um,mas porque preciso estar coerente com o que sou e acredito.. PS: Não tenho intenção de ofender ninguém ou criar inimigos pela manifestação de minha intenção de voto, sejamos maduros e vamos debater conceitos políticos e perspectivas de Estado, não é mais tempo de fla-flu, ou de discursos ou de achar que a política não nos cabe, ela é dever de cada um... Qualquer comentário no sentido de debater ideias será aceito e bem vindo.Ofensas pessoais serão sumariamente deletadas,em benefício de minha saúde mental.

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