Que liberdade é essa, densa,calma, dura,que me sufoca a garganta e me rasga o peito?Que liberdade é essa urgente, impositiva,cruel,que não respeita as marcas que ainda restam no meu corpo e o tanto de sangue que se espalha no chão?Que liberdade é essa, dolorosa, perversa, sutil, que percorre a minha pele, em um convite, delineando curvas, propondo caminhos, arrepiando a nuca?Que liberdade é essa,que não tem um nome, um rosto, uma razão além de mim mesma, dos pés descalços que pisam o chão frio, das mãos vazias, que tentam tocar o novo, das lágrimas que insistem em cair, por todas as dolorosas memórias cotidianas?Como eu queria não ter que escolher ,como eu queria a paz que cega, o conforto doloroso das horas diárias, a certeza de não poder?Acontece que eu posso, e é por poder que o peito pesa, é por poder que as mãos tremem..Súbito, já não importa onde, mas apenas ir..Além .Infinito.Adiante.E estar só. Assustadoramente só.Desmesuradamente incômodo.
Porque,diante de tudo e de todas as pessoas,os joelhos ainda estão no chão,antes os golpes,que foram muitos e rápidos e indefensáveis. Mas foi ali,rente ao chão,a cabeça vergada, que se fez ouvir o silêncio. Amplo. Infinito.Quente. Como um sopro de vida por sobre todas as coisas.E a voz que vem do fundo peito:esse é o teu destino.de sangrar, dia a dia, sem ter remédio ou consolo.Por que? Para ter a liberdade de renascer todos os dias e morrer ao final, com a certeza de que esse era o único caminho possível.
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