quinta-feira, 7 de novembro de 2019
da bailarina
Era uma vez uma menina que queria ser bailarina...Os outros diziam que era um sonho gigante, daqueles que não cabem em caixinhas e sobram para os lados, quando os tentamos aprisionar.A menina insistiu,bateu o pé, chorou.teimou..As vozes riram...voltaram a dizer que não, que não cabia na vida de quem precisa caminhar uma estrada tão longa, o descanso de estar apenas na ponta dos pés..(ou assim eles achavam). A menina enfezou. - Então não podia querer? Queriam mandar na estrada que escolhera?Mas calou e foi cuidar da vida, exatamente como eles tinham dito.Obedeceu.Calou.Deixou o tempo passar. As sapatilhas, guardadas em uma caixa, ficaram no armário,ao alcance das mãos, enquanto a menina crescia e o tempo arrancava com rapidez folha a folha do calendário. E o tempo passou. A menina cresceu,tanto que dentro dela surgiu,num piscar de olhos,uma outra menina igualzinha a ela. Mas o sonho ainda estava ali. E era tão grande,tão real, tão maior do que ela mesma que sua menina nasceu como ela, com os pés esticados nas pernas,os braços sempre erguidos e as mãos sempre a girar. A menina,que agora era mãe, achou que bastava. Afinal não era fruto dela mesma essa bailarina que crescia diante dos seus olhos, linda de não poder mais, sempre a rodopiar aqui e acolá? E o tempo passou novamente e a vida engrenou e desengrenou tantas vezes, como sempre acontece quando a gente se distrai. Um dia, no arrumar das coisas, a caixa do sonho caiu,assim no meio do quarto, fazendo barulho no chão e acordando os cachorros da vizinhança. A menina levou um susto.Passara um longo tempo,tanto de não contar. Ela já nem se lembrava mais quanto..As sapatilhas, contudo,não tinham nem um grama de pó. Parecia que não tinha passado tempo algum. A menina se aproximou,examinou uma a uma. Respirou fundo e experimentou. Cabiam exatamente no tamanho dos seus pés...Surpresa, encantada, ela foi até o espelho e contemplou a própria imagem. Estava ali,diante dos seus olhos o sonho imaginado, exatamente como era.Uma bailarina que olhava pra ela e sorria, do tamanho que tinha que ser....com todo o tempo do mundo e a pressa de girar e esticar seus pés ao infinito... com o suor nas mãos e a teimosia de continuar apenas e sempre buscando a alegria de ser, na ponta dos pés, no giro das pernas continua e infinitamente bailarina.
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