quarta-feira, 24 de julho de 2019
E agora,José?
E agora,José?
E agora,José? Foi-se a democracia, esgotou-se a previdência, extingui-se o FGTS.Rasgaram a Constituição. Desabam as universidades, agoniza a saúde pública, morrem as farmácias populares. E agora,José?E agora,você? Não foste para rua, não tentaste qualquer reação, te entrincheiraste em tuas pequenas certezas, acreditaste que nada ia te alcançar?Do fundo do teu sofá,onde ergueste teus punhos contra a corrupção, não te alcançaste o desemprego, a desigualdade na tua esquina, a violência atingindo teus vizinhos, o sangue escorrendo no teu bairro? Acaso não ouviste o grito dos estudantes, professores e artistas, te chamando a lutar, a proteger as liberdades, pensaste que eram comunistas?Comunistas,José? Enquanto jantavas teus preconceitos, em teu prato 237 agrotóxicos a mais,acabaram os debates, fecharam as porta dos jornais, expulsaram os dissidentes, e tu, José, digerindo tuas verdades falsas, tuas informações truncadas, teu vasto manancial de pequenos ódios e mesquinharias, esforçando-se para não ver o óbvio?Que tua revolta nunca fora contra a corrupção, nunca fora por um projeto de país,mas apenas para estar certo e apontar o dedo aos que divergem de ti. E agora José?Sozinho na sala, não tem mais namorada, não tem mais amigos, não tem mais samba na esquina, não tem mais cinema.O teatro fechou. Nem mesmo trabalho há. Quer fugir não pode, quer dormir não consegue, quer cultura, não há mais cultura. Quer caminhar na floresta,não ha mais floresta, não só um silêncio incômodo nas ruas vazias.Há somente a dura constatação de que está só,andando em círculos no conforto de tua varanda , admirando os inúmeros helicópteros com miras telescópicas, que fazem todos os dias dez corpos no chão. José, até quando?
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