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sábado, 30 de julho de 2016

sobre liberdades e feminismo.

Aos 11 anos escrevi meu primeiro texto feminista. Eu nem sabia o que era isso, mas foi a primeira vez que o peito doeu, absolutamente cheio de palavras a dizer e, como seria sempre a partir dali, o papel foi o melhor canal para absorver o que eu sentia. Não me lembro de toda a poesia, mas me lembro claramente de dizer que não queria um mundo onde o homem fosse humilhado, mas que estivesse, inevitavelmente, ao meu lado... Eu já buscava nessa época, uma forma de vida que não colocasse em extremidades opostas homem e mulher, ou que privilegiasse qualquer uma das partes,mas um espaço plural, de respeito e de equilíbrio. Confesso que, em algumas situações, o simples fato de ser mulher era uma atitude de protesto. Mulher em uma escola quase que totalmente de meninos (cursei CEFFET e ,na minha turma, de quarenta alunos, somente seis eram mulheres). Mulher em uma área como o TI, onde ser doce era um convite e ser antipático era um risco profissional. Mulher em uma sociedade em que engravidar aos 17 e se separar aos 20 anos era (ainda é) um crime. Mulher onde ser solteira e demonstrar o que se sente ainda é considerado uma ameaça. Não foram poucas as vezes em que me revoltei quando percebi o tanto de machismo que existe entre mulheres. Somos juízas de nossos corpos, de nossas ações. Nos submetemos bem mais do que antes ao olhar alheio. Precisamos da perfeição, profissional e estética.E julgamos - Como julgamos!!- por idade, tipo físico, comportamento... Criamos nossas filhas para serem lindas, doces,inteligentes e quase nada humanas. E aceitamos como uma regra a imposição de que somos inimigas... E então, quando me sinto sucumbir ao desânimo, ganham força vozes e ações que se levantam contra isso. Dão as mãos. Abraçam. Acolhem. Sinto finalmente quer iremos,todas juntas... Respiro aliviada. Mas ainda há muito o que fazer. Em muitos grupos feministas as décadas de combate ao machismo criaram uma força em igual medida e em "sentido contrário". Tornamos-nos, muitas vezes, conservadoras, sectárias, intolerantes. Julgamos a sexualidade e o relacionamento alheio pelos olhos do que consideramos “certo”. Proferimos verdades sobre como as outras devem ou não se comportar. Fazemos discursos sobre conceitos morais ligados ao judaico-cristianismo e nem sequer piscamos os olhos.. Afinal de contas, queremos ou não a liberação sexual?Temos que ser éticas, dizemos. Confundimos relações com contratos e nos surpreendemos reproduzindo os mesmos modelos do patriarcado, criando fogueiras onde penduramos os que ,acreditamos,não estão de acordo com a regra. Quem trai, afinal,merece ser exposto, julgado, agredido. No calor da luta, no cansaço dos anos, nos tornamos uma força contra-hegemônica, igual e no sentido oposto da força que combatemos. E nos perdemos no caminho. Enquanto navego por entre discursos femininos e feministas, percebo que nos perdemos em nossas batalhas, buscando coerência em campos tão diversos quanto a sexualidade. Queremos regras. Ainda. E como somos conservadoras! Nossos movimentos, jovens e cheios de energia, caducaram. Precisamos do poder ultrajovem, como diria Drummond, de propor outros olhares, outras sensibilidades, onde compreendamos que o sujeito é feito de complexidade e que não são necessários mais enquadramentos... É preciso respeito ao que se sente. Apenas. E afeto pelo que o outro/outra é... Uma coisa ainda me aterroriza:enquanto continuarmos nos baseando em modelos de Relacionamento ditado pelo patriarcalismo jamais seremos verdadeiramente livres.