sábado, 3 de outubro de 2020

Alice e o poço dos desejos

Então Alice caminhou por dentro da floresta e alcançou uma clareira. E foi ali onde encontrou o poço...Um buraco de pedra, escuro, interminável. Experimentou a borda. Intransponível. Tentou inutilmente iluminar com um espelho. A luz da noite refletiu timidamente um restante de água no final do breu. Subitamente Alice teve sede . Havia sido uma longa caminhada e ainda sentia as dores reverberando pelo corpo. E ainda tinha as mãos cortadas pela tentativa de se desvencilhar dos golpes certeiros da mata escura que acabara de atravessar. Mas como alcançar o fio de água de um poço sem fundo, sem um balde que a pudesse auxiliar? E se fosse um poço dos desejos, ela imaginou. Então seria fácil pedir algo que a fizesse chegar onde queria. Procurou uma moeda nos bolsos. Nada. Perdera tudo que tinha no percorrer da última estrada. A dor na garganta começava a se fazer insuportável. Seu corpo todo gritava pela água que, naquele momento, já parecia um oceano profundo capaz de fazê-la mergulhar. Então Alice terem uma ideia. Ajoelhou-se diante do poço, rememorou algumas das suas orações favoritas e pediu, intensamente que o universo lhe presenteasse com um balde, um copo, uma corda que lhe permitisse alcançar a água. Fechou os olhos e desejou com toda sua alma ser atendida. e rezou. E rezou, pedindo e desejando com toda intensidade de que fora capaz. foram ,longos minutos - ou seriam horas e dias- até que o silêncio cortou seu peito. Nada aconteceria Alice teve então uma crise de choro E parecia que seu peito abria em duas partes, diante da dor. Mas como podia não ser aprendida, se pedir com tanta fé, se dedicar cada parcela de suas energias a desejar algo tão justo, por que ainda acontecerá? Abriu os olhos e contemplou o céu. Talvez sua fé a tivesse abandonado. Talvez seu destino fosse realmente morrer ali diante do poço. Sangrando diante de suas expectativas frustradas. Não era justo. Agora que finalmente sabia o que desejava, porque o universo não colaborou. Não seriam suas orações eficazes o suficiente? Como uma provocação, a lua cheia diante de si refletia nada além do que um retumbante silêncio. E nenhum sinal nesse momento poderia servir de farol. O universo respondia a seus pedidos com uma completa indiferença. Alice chorou. E pediu. E rezou por mais um longo tempo. No final, exausta, exaurida, o suor escorrendo do rosto, as mãos retesadas de dor, postou-se no chão ao lado do poço. E fechou os olhos.no ato continuo encontrar a escuridão,mergulhou no seu próprio silêncio e então vislumbrou a si mesma,deitada no escuro de uma floresta, em total solidão. Esperando pelo retorno do mundo diante da única e inabalável certeza de que nada aconteceria. E desejo,a fé,estavam dentro dela. E a ninguém mais caberia ação, nem mesmo ao universo. Era ela a dona da história, através da qual percorreu longos caminhos, sangrando em muitos deles. resistira. Estava ali, ainda em fé e desejo, ainda a mesma Alice e suas mãos vazias. E sua poesia. E seu amor. E Então soube o que devia fazer. Descalçou as meias. Tirou os sapatos, desamarrou o cabelo, sentou-se na beirada do poço. Por alguns segundos contemplou a lua que,cúmplice, forneceu seu raio mais luminoso de luz,atravessando as nuvens. Alice tocou a borda do poço, de pedra,intransponível, ressecado pelo tempo. E sorriu. Rememorou o percurso da viagem. As páginas rasgadas. os instantes de dor. A alegria reverberando pelas paredes.Todos os raios de sol atravessaram sua pele. Tinha afinal descoberto as águas de um oceano profundo dentro de si. E não havia mais dúvida do que deveria fazer. Girou as pernas, contemplou a escuridão do poço e mergulhou.

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