quinta-feira, 3 de setembro de 2020

Nós: sobre amor em tempos de pandemia

Pelo tempo de sempre Na certeza do nós. Eu. Você. Vida. Meu corpo. Tua pele. Na superfície lisa dos lençóis amassados. E a luz do sol que entra pela janela. Depois de tantos dias, houve um instante interminável em que cheguei a pensar: Nunca mais. Eu? Você? Morte? E o fluxo de vida sobre todas a coisas. Ser. Enquanto as manchetes contavam os mortos. E os corpos acumulavam nas esquinas. Nós. E a trama delicada da tua boca na minha. Ousando ser vida, onde o desespero habitava. Quando foi que paramos de ouvir o mundo, os relatos da pandemia e desafiamos o não, perscrutando um silencio só nosso? Mantra. Amor. Benção. No fundo tu já sabia e suas mãos já falavam na minha pele: vai ficar tudo bem. De que me adiantavam as estatísticas, os mapeamentos detalhados de sim e de não se era no espaço Entre onde eu encontrava um caminho de ser eu e você? Haveria mesmo espaço para o amor enquanto a cidade fervia e sangrava? Mas sim. Todos os dias enquanto o mundo aguardava, eu, você, nossos planos. E a sutil trama de ser sim, fluxo de corpos que pesam um sobre o outro, vida que se quer esperança, à revelia dos dias de quarentena. Resistimos. Somos. Tantos meses depois, na raiz do meu corpo, no mármore escuro da tua pele seguimos, em nossa casa, que construímos juntos, cada um de seu lugar, dia a dia, na longa espera. Vida que se quer esperança. Reconstruir afeto para ser coletivo. Mundo que se quer casa. Poesia que se quer fé. E seguimos, tu e eu, na inesperada metáfora de vida que somos, atravessando a morte e a desesperança pela coragem de ser nós

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