domingo, 18 de fevereiro de 2018

vivam!

O eu profundo e instável, rasgado entre os papeis espalhados na mesa.Ah! Eu quero o ser pequeno e frágil, que se move entre as máscaras penduradas na parede, que sangra e sente, no intervalo das horas...Nada de meias verdades, de discursos retumbantes, eu quero o intenso intervalo de silêncio que pesa no peito como ferro em brasa. Enquanto o caos habita, ponho ao chão, uma a uma, minhas certezas, lanço os quadros na parede, livros abertos, fotos, objetos decorativos, em uma pilha que já se faz alta, no meio da sala. É preciso pôr fogo a tudo que confere estabilidade ao cotidiano,é preciso navegar no escuro para tocar a face do real, que se esconde no espaço entre dois olhares, onde as mãos se estendem e o coração pulsa. De súbito me enojam as pequenas verdades, os gestos de comedido afeto, as expressões de alegria superficial. O que busco vai alimentar-se na dor mais profunda da alma, na pele vermelha de dor, mas absolutamente encharcada de sentidos, múltiplos e transitórios, posto que reais, em seu infinito fragmento de espaço e tempo...Não me tragam respostas, eu quero as perguntas, todas elas, lançadas ao rosto, com dor e fúria...Desse ser, humano e tenso, que se desfaz em poesia e busca infinitamente,ignorando as máscaras, os jogos, as fugas..Eu quero a coragem do caminhar ante o silêncio, o gesto sutil de despir-se dos medos, grandes e pequenos, a dor absoluta de saber-se só...O peso de não receber recompensas, apenas a intuição de estar no caminho certo,mesmo que por breves intantes...As canções breves e sem sentido, a dança absurda em meio à multidão. A angústia profunda do existir. O desafio diário de ser. A brusca procura do nós...Para fora todos os personagens, para fora as ações comedidas, rompam a pele, deixem cair a lágrima. Soltem da garganta do desmedido e absurdo grito. Vivam!

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