quinta-feira, 19 de março de 2015

Utopia

Sobre todas as notas permanece o silêncio que nenhuma significação seria capaz de preencher.não há sentido ou explicação possível.Explicar como, se não há forças capazes de fazer o vento deixar de bater na janela e o escaldante verão tornar-se subitamente uma tarde leve de domingo? Ao mínimo contato os olhos se fecham e o corpo é tomado por um contentamento quase sem querer. Já são os braços que se abrem, enquanto no rosto, imperceptivelmente, surge um breve sorriso.
O que se há de fazer se, inesperadamente todos os fatos e horas do dia são automaticamente jogados ao chão e todas as certezas riem de si mesmas enquanto vão uma a uma negando-se continuamente?
Na mesa da sala restam os livros abertos e no computador o cursor pisca teimosamente,buscando a complementação da frase que ficou na tela...Mas é só olhar lá fora e ela esta ali, no meio do jardim de suas próprias esperanças,esticando os braços em direção ao sol,girando insanamente enquanto a musica ecoa em seus ouvidos.
Que importam títulos, aprovações, conquistas? Ela trocaria tudo por apenas mais um momento de silêncio em que a utopia batesse à porta e a arrancasse de toda racionalidade.
Quando todos os “porquês” se calam e a poesia toma conta do ambiente surgem metáforas que remetem ao vazio,ao nada... Não é necessário significar, não importa que todos os sintagmas sejam desperdiçados ou que não haja explicação plausível para uma felicidade tão grande que chega a doer, pois que não é feita de fatos,mas de um sentir alheio a tudo.Ela existe e é tudo...Em vão baterão à sua porta, não abrirás.Por hora, restará aqui sozinha, dançando ao som do silêncio que se faz maior porque é só seu...tua boca,tua pele,teus olhos já não te pertencem mais.é toda promessa e sonhos e só sabes dizer “sim”.Enquanto isso as mãos continuam estendidas,tentando alcançar o infinito...
“.. tinha suspirado, tinha beijado o papel devotamente! Era a primeira vez que lhe escreviam aquelas sentimentalidades, e o seu orgulho dilatava-se ao calor amoroso que saía delas, como um corpo ressequido que se estira num banho tépido; sentia um acréscimo de estima por si mesma, e parecia-lhe que entrava enfim numa existência superiormente interessante, onde cada hora tinha o seu encanto diferente, cada passo condizia a um êxtase, e a alma se cobria de um luxo radioso de sensações! “ Eça de Queiroz

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